sábado, 17 de outubro de 2009

Irrigação avança no vale do São Francisco

Depois de mais de dez anos sem a criação de perímetros irrigados para a agricultura, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), vinculada ao Ministério da Integração Nacional, volta a licitar novas áreas.

A empresa pública está leiloando 5 mil hectares do Projeto Salitre, em Juazeiro (BA). Até o fim do ano, outros 7,6 mil hectares serão licitados. Dividido em cinco etapas, o perímetro tem ao todo 31,3 mil hectares irrigados e quase duas vezes maior que o de Nilo Coelho, maior área irrigada no Vale do São Francisco atualmente.

Idealizado ainda na década de 70, Salitre recebeu até agora, e após muitas idas e vindas, R$ 442 milhões em investimentos. Desse total, R$ 2 milhões vieram do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a partir de 2007.

A abertura de novas fronteiras é vista como fundamental para a diversificação das culturas plantadas na região e para o próprio desenvolvimento econômico do sertão. Hoje, a fruticultura desenvolvida nos cerca de mil hectares irrigados do vale está concentrada basicamente em uvas e mangas. Por ano, o polo produz 1 milhão de toneladas de frutas.

"Fazia tempo que o Vale do São Francisco carecia de novas terras irrigadas. Várias pesquisas já apontam o potencial de novas culturas, mas não tinha mais terra para se plantar", diz José Gualberto Almeida, presidente da Valexport, a associação de exportadores do vale. A última licitação foi feita há cerca de dez anos para 2 mil hectares na cidade de Barreiras, polo de grãos da Bahia.

Entre os projetos de produtores interessados nas áreas do novo perímetro estão plantações de banana orgânica e café, além da criação de ovinos e da pecuária leiteira. Dono de uma fazenda de uvas em Lagoa Grande (PE), Luigi Garziera planeja, por exemplo, concorrer a um lote do Projeto Salitre para fazer leite e derivados, diversificando os negócios.

Para os 5 mil hectares da primeira etapa, fatiados em 276 lotes, a Codevasf recebeu mais de 3 mil propostas, que agora estão sendo analisadas. Os terrenos, ainda de propriedade do governo federal, estão separados em áreas destinadas a pequenos, médios e grandes agricultores.

De acordo com Wagner Zani Sena, chefe de administração fundiária da Codevasf, a maior procura ocorreu nos lotes pequenos, de 6,6 hectares em média. No processo de seleção, foram lançados no Salitre novos critérios, como experiência na agricultura e grau de instrução.

Juntos, esses quesitos têm peso maior do que a comprovação de renda. "Optamos por essa modalidade de escolha para aumentar a chance de sucesso dos empreendimentos", diz. Também pesará o valor oferecido pelo hectare, que tem como preço mínimo R$ 2.399,2.

Para as áreas empresariais de grande porte não houve demanda para dois dos três terrenos. A Codevasf ainda busca uma explicação para a falta de interesse, mas avalia que a crise econômica possa ter atrapalhado o processo.

"Um motivo que parece bastante forte é a dificuldade de se conseguir financiamento para viabilizar os projetos", diz o chefe de administração. Uma saída para o problema pode ser a divisão dos terrenos em áreas menores. O lance mínimo por hectare é de R$ 788,61.

O Projeto Salitre traz algumas inovações em relação aos perímetros já licitados. Os sistemas de irrigação, por exemplo, antes implantados pela própria Codevasf, ficarão sob responsabilidade dos produtores. Isso porque muitas vezes a tecnologia aplicada não era aquela desejada pelo agricultor. Para os lotes familiares, foi firmado um convênio de financiamento dos equipamentos com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB).

Outra novidade é que o perímetro contará com uma consultoria para auxiliar os agricultores em produção e venda, para aumentar a probabilidade de os projetos darem certo. A licitação da empresa responsável por esse processo ainda será realizada pela Codevasf.

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